quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Costumo andar a paços largos e rápidos pelo asfalto, dobro cada esquina com uma esperança mórbida de que tudo vai mudar, de que tudo um dia precisa mudar, de que eu um dia vou mudar de casa, de pessoas, de estado de espírito. E é esse dobrar de esquinas que me mantém em pé e que dá a força necessária para meus músculos e minha mente contida de sonhos inacabados continuar caminhando mesmo que em estado mórbido. Navegar é preciso, viver não é preciso, disse um dia Fernando Pessoa. Navegar, imaginar... Sou uma comedora de sonhos, caminho sempre a passos leves e largos, na esperança de um dia voar... De poder voar com todas esses indivíduos maravilhosos que aparecem na minha frente, nos meus lados ou pelas minhas costas. Todos esses indivíduos lindos que passam tão despercebidos pelas esquinas do dia a dia. Não, despercebidos não é a palavra certa! Percebidos, mas descartados por atitudes esborradas de medo e mascaradas de indiferença de conhecer, de saber, de apreciar e entender o outro, viver do outro e com o outro. E é sempre assim que a angústia me assola, apesar de o dia estar lindo e do acariciar de ventos em meu rosto... É, o dia não respeita a minha angústia, nem mesmo a sua. Vai ver é uma tentativa tola de nos acalentar com um pouco de sol e céu azul, até que funciona um pouco.

domingo, 21 de novembro de 2010




Esotérico

(Gilberto Gil)


Não adianta nem me abandonar

Porque mistério sempre há de pintar por aí

Pessoas até muito mais vão lhe amar

Até muito mais difíceis que eu pra você

Que eu, que dois, que dez, que dez milhões

Todos iguais



Até que nem tanto esotérico assim

Se eu sou algo incompreensível

Meu Deus é mais

Mistério sempre há de pintar por aí



Não adianta nem me abandonar

Nem ficar tão apaixonada, que nada!

Que não sabe nadar

Que morre afogada por mim

sábado, 20 de novembro de 2010


Gosto sim é dessas criaturas que botam a minha vida de cabeça pra baixo, e que quase sem querer, vai me desconstruindo aos poucos a ponto de eu nem mesmo perceber. E aí, quando finalmente me olho no espelho, consigo enxergar os rastros de gente bonita, de gente feia, de gente confusa, de gente cheia de coragem, de humanidade transbordando de mim... E o mais engraçado, é que não me sinto despersonalizada, desalmada ou um nada qualquer; sinto-me tão mais, mais, mais...

terça-feira, 2 de novembro de 2010


Escrevo na tentativa de guardar imagens. A minha imagem, a imagem dos outros, a imagem de uma estória condensada no infinito e exato momento do olhar... A inebriante e gostosa estória de um mau amor, tão mau que é bom, tão bom que é mau!

Era uma vez, um navegante e mais três. Eis que surge uma donzela efetivamente de porre portadora de um cigarro no canto da boca. Lês deux amants, ali no meio de ventos um tanto assanhados e ondas de dar medo trocaram olhares demorados. Era o instante exato em que pai e filha se reconheciam um no outro, amedrontados pelo arrepio que se perpetuava no corpo quando o choque de vidas passadas, vividas, romanceadas vinha à tona. Dois corpos e centenas de vidas na bagagem e isso pesava de modo que eles se esforçavam para não caírem um em cima do outro, na parede ou no chão, continham-se. Mas era justamente esse “conter-se” a calda viscosa da relação baseada em apertar demais e pouco afrouxar. Afrouxados, eram um problema... O valente navegante precisou unir as forças de todo o seu batalhão de vidas a fim de garantir sua lealdade à outra amada, A amada, a esposa que o esperava com um café quente ao lado da cama.