sábado, 28 de agosto de 2010





olhos nos olhos e o mundo inexiste.
Me afundo naquela cor castanho-claro-brilhante-vivo,
castanho-claro-medo,
castanho-claro-enfeitiçado por olhos negros-noite-ciganos com um quê de preto-breu-espiritual, preto meu.
A cor em que tu se afundou de tal forma que desafogou depressa e respirou fundo, amedrontado pela possibilidade de ser engolido alí mesmo. Massante pecado desviar os olhos...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010



vermelho profano

O sangue se mistura com a água e esvai-se pelo ralo, o meu sangue. Sou mulher, mas funciono como cadela no cio. No fundo das coisas, não há diferença entre uma cadela que solta sangue pela vagina e uma mulher que solta sangue pela vagina. As duas procuram um macho alfa pra se satisfazerem, e depois outro, e depois outro e assim sucessivamente. A feminilidade é vermelho sangue. Eu, particularmente, gosto muito dessa cor que sai de mim. É tudo tão íntimo, tão claro e visceral... Os ciclos da lua, das marés, da rotação da terra, de todo o funcionamento do universo está nesse sangue que vai embora pelo ralo,pelo esgoto,pelo mar,pelos rios que alimentam as plantas que nos alimentam fechando ciclos,ciclos,ciclos! Todos aqueles leões famintos farejam o odor amargo sangue a quilômetros de distância, olham para os lados embriagados procurando... Os movimentos sinuosos, o ar imperial e os olhos hipnotizantes daquela que não se sabe nomear: misto de divino que é profano e um punhado de carne, tanta carne! A saliva escorre pelo canto da boca dele, enquanto ela caminha fingindo não ser nada, sendo tudo. Pobre leão.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010



Pelas janelas do ônibus, pessoas correndo de um lado para o outro. De longe, é só isso que é possível enxergar: alguéns ocupados com as botas, com simples botas. Criam um sistema complexo para resolver a questão das botas. "Ah, porque as botas são elementos cruciais!" Cruciais! Que grande besteira! Enquanto isso, os pés continuam sufocados dentro das botas esperando a sonhada notoriedade. E quando olho nos olhos desses mesmos alguéns, consigo sentir o choro dos pés calejados, o sufoco. Ahh...Se um dia eles mandassem as malditas botas para o inferno! Ahh...se esse dia chegasse... Talvez o mundo funcionasse melhor com todos de pés descalços, fincados na terra.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010



Eu danço,
Você permanece estático.
Eu rio,
Sua vontade é de tapar o meu sorriso para que ninguém mais o aprecie.
Eu gosto disso, e sem pena, rio ainda mais alto!
Dor, não se sabe onde. Mas é uma cólera, uma ferida em que eu piso forte, sangra... Sangra tanto. Me desculpe, não posso evitar.