segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

o leite derramado sob a natureza morta...me choca, me choca!




Saturada de morar entre muros enfarpados, aqueles mesmos construídos por você e por mim, por toda a gente. Anna sentia que a chuva rala de agora vinha como que para acompanhar a tristeza de viver em um mundo cheio de indivíduos idiotas, frios e socialmente corretos, tô falando de toda a gente que não entende a sutileza de certas ações... Gente que nem ao menos procura entender o que se passa na cabeça do outro. Mas o que eu queria mesmo dizer é que esse dia foi um verdadeiro DIA DE CÃO para Anna!!! Típico dos dias que vem logo depois dos momentos felizes de bonança. Às vezes me irrompe o pensamento de que Deus calcula a felicidade líquida de cada cidadão para depois revertê-la, na mesma quantidade, em desgraça e tristeza. E digo mais, caso ele se sinta por demais inspirado, permite-se derramar mais uns litrinhos de vazio além da conta... Só pra.. Só pra..hm, rir. Rir da sua cara de cocô. Pois é. Já para os otimistas, vai a chance de que futuramente Ele recompense todos os sofridos com muitos e muitos litros overdose de alegria. Eu sinceramente não creio nisso. Pra mim é tudo uma questão de sorte mesmo e mais nada a discutir. Nessa vida nada se sabe, mesmo! Enfim, voltando... a chuva rala e o coração murcho. Anna repousou os olhos pesados sob uma criança que dormia serenamente em outra realidade. Choque. Aquela criatura pura era tremendamente antagônica à babilônia do mundo moderno, à complexidade dos desencontros, à sua tia no pé do ouvido, aos milhões de projetos em andamento, à... Calou-se. Tudo o que queria fazer era dormir ao lado da criança, também como uma criança. Que bom seria se acordasse ainda criança! As lágrimas teimavam em descer, e assim Anna deixava que descessem... Lembrou-se de que um dia fora assim, não só ela como também o padeiro arrogante, o ladrão viciado, o político corrupto, a mãe sem razão, o padre safado, o professor carrancudo. Que maravilha seria não entender porque o céu é azul, o porquê de não andar nu, sentar de perna aberta pra falar bobagem. Como um bicho machucado, aninhou-se  ao lado da criatura plena de infantilidade. Queria mesmo era aquietar o espírito revolto com um punhado de inocência que transbordava da criançinha.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ócio Improdutivo



 Ó céus! Qual é o meu poder diante dessa coisa , que agora há pouco era faísca, e que nesse instante me corrói sem piedade, de um jeito apaixonadamente bonito, me corrói.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011



"Cultura demais mata o corpo da gente, cara, filmes demais, livros demais, palavras demais."

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ode aos bêbados






A embriaguez!  Vontade de ter a verdade escondida nas extremidades dos confins do indivíduo. E ainda tem gente que quer esquecer do último porre, que não era eu... não era eu... não podia ser eu!  Uma ova. Tudo aquilo era mais você do que isso aí sentado na cadeira de escritório com canetinha na mão. Pena que nenhuma garrafa de carreteiro ou carreirinha de pó consegue efeito permanente. Perfeito mesmo seria sentir pra sempre aquele entorpecimento que preenche a gente subitamente, sonho mesmo seria sentir isso tudo vim daqui de dentro. Isso que de quando em quando eu sinto, arrepio, abraço forte pra não me deixar e que vai sem cerimônia... Admiro muito os poucos bêbados inundados de si, portadores de uma sobriedade tal que conseguem penetrar corajosamente nas tais extremidades dos confins do indivíduo sem molhar a língua ou assassinar neurônios.
"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."

Lindo.
(Caio F. Abreu)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Costumava não acreditar naquela teoria de que quem não espera, acha. Para mim as coisas só eram alcançadas através dos meus próprios passos.. Até que em uma noite enluarada, João caiu diretinho nos meus braços gastos de ir de abraço em abraço infinitamente, não mexi sequer um dedinho, e ele já estava caindo em mim como rojão de festa junina, explodindo e espalhando os pedaços. Eu, descuidada como sempre, me mantive boquiaberta pelo tamanho susto e o que aconteceu foi que um desses pedaços (um dos grandes) entrou pela minha garganta e ficou por aqui mesmo. No começo engasguei, tossi, esbravejei... Queria vomitar aquele corpo estranho. Mas passado um tempo, me acostumei ao fato de João estar em mim e eu estar em João. Quando o sol enfim nasceu, para a minha grande surpresa ele ainda estava lá dormindo como anjo sorrindo pelos cantos da boca.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011